Não há crime hediondo como a tortura, quando o algoz usa do poder de
que dispõe para seviciar a vítima indefesa, não importa se o torturador é
militar, civil ou um simples sequestrador – o crime abjeto é o mesmo.
Mas é claro que o torturador que age sob o manto da farda militar tem a
circunstância agravante de representar um Poder desmesurado, não há
dúvida. Fica mais covarde ainda.
É preciso punir esses criminosos, não há dúvida. Mas acontece que o
Supremo já decidiu que a Lei da Anistia valeu, está em vigor e não pode
haver condenação para os torturadores do regime militar. O que se pode
fazer, então? Ora, a solução já está encontrada. É o esculacho-escracho,
uma manifestação que surgiu na Argentina e no Chile e que agora ganhou
uma versão bem brasileira.
Assim, com o intuito de chamar a atenção da sociedade sobre a
importância da Comissão Nacional da Verdade, que tem por objetivo
investigar os crimes cometidos por agentes de Estado (torturas,
assassinatos, sequestros) no período da Ditadura Militar (1964-1985),
jovens manifestantes têm promovido atos de esculacho contra os
torturadores.
Já foram feitos esculachos em diversas cidades. No Rio, o alvo foi o
torturador José Antônio Nogueira Belham, em frente a sua casa, no
Flamengo, Zona Sul do Rio. Ele foi um dos responsáveis pela morte do
deputado Rubens Paiva. Em Guarujá, São Paulo, o esculachado foi Maurício
Lopes Lima, tenente-coronel reformado, reconhecido por Dilma Rouseff
como o seu torturador.
É claro que a versão brasileira do esculacho tende a ser muito mais
alegre e festiva, como é do nosso temperamento, que comprova a
cordialidade de nosso povo na sábia visão do sociólogo Sergio Buarque de
Holanda, o pai do Chico (que também apoiava a guerrilha, teve de deixar
o país mas não chegou a ser torturado).
Daqui a pouco, vão aparecer surdos, bumbos, caixas e tamborins, e o
esculacho vai ficar completo, podem apostar. E assim vai indo o Brasil,
este estranho país onde tudo acaba em pizza ou em… samba.
Carlos Newton Tribuna
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